Plano de sócios no futebol europeu x Paraná Clube – Coluna ODS

Não é nenhuma novidade que o Paraná Clube sofre com seu plano de sócios e presença de público na Vila Capanema. Dessa forma, a ODS decidiu procurar exemplos na Europa para tentar trazer a discussão em nosso âmbito esportivo.

Existem diferenças entre os planos de sócios utilizados nos clubes europeus, variando de acordo com a demanda de cada clube, capacidade do estádio, média de público de anos anteriores, etc. Assim utilizaremos como base o plano de sócios utilizado pelo Borussia Dortmund, clube alemão que tem a maior média de ocupação de seu estádio no futebol europeu e que, por isso, pode ser considerado ao menos um dos exemplos mais bem sucedidos. Este modelo é o que é mais utilizado pelos grandes europeus, com pequenas variações, mas seguindo uma mesma base sistemática.

Primeiramente é importante ressaltar que utiliza-se um sistema totalmente diferente do que se pratica habitualmente no futebol brasileiro. Não existe qualquer diferença de valor para que o torcedor se associe ao clube. Do torcedor mais pobre ao maior milionário é cobrado um valor ANUAL de cerca de 70 euros. 

Das vantagens dentro dessa quantia, ao se associar, o sócio recebe mensalmente uma revista do clube, pode participar das assembléias e decisões importantes do clube, recebe um presente anual da loja (geralmente um produto como chaveiro, cachecol, caneta, etc.) e tem total preferência na aquisição de ingressos avulsos para os jogos em casa ou fora.

Após figurar no quadro de sócios por, pelo menos seis meses, o torcedor se torna apto a pleitear a aquisição do carnê para jogos da temporada. Explica-se, torna-se apto pois existem mais pessoas querendo adquirir os carnês disponibilizados. São 55 mil carnês por ano, restando 25 mil ingressos que são vendidos avulsos por jogo, pois a capacidade do estádio é de 80 mil pessoas.

Neste plano, o clube vende pacotes anuais de ingressos para todos os jogos da temporada, que pode ser pago mensalmente e, como já existe a renda proveniente dos sócios, torna-se mais barato que o ingresso avulso. Dentro destes pacotes anuais existem diferenças de valores baseados na localização dos assentos e planos familiares com valores mais atrativos. Atualmente os pacotes de ingressos giram de cerca de 50 euros mensais à 240 euros mensais, dependendo da categoria. Para crianças até 14 anos, o valor é de aproximadamente 27 euros e, para adolescentes de 15 e 16 anos, gira em torno de 35 euros – estes em qualquer setor do estádio, pois ficam vinculados ao setor do seu responsável que se enquadra nos valores anteriormente indicados.

Neste aspecto, o valor por jogo fica na base de 10 a 60 euros e, no caso das crianças e adolescentes que acompanham os pais: 5 a 8 euros por jogo, em média. Assim, o clube consegue fidelizar seu torcedor e renovar seu público, pois para um pai ir com seu filho ao jogo no setor mais barato, vai gastar cerca de 15 euros por jogo, com total conforto e segurança.

A conversão dos valores para reais não se torna um aspecto relevante por conta da renda familiar lá ser computada também em euros, demonstrando que os valores não correspondem a um patamar significativo na renda das famílias e torcedores.

Ainda, tendo em vista que este torcedor adquire entradas para os jogos do ano, caso o torcedor não tenha interesse ou possibilidade para comparecer alguma partida, pode comunicar o clube com antecedência de 72 horas para que o clube venda ingresso avulso de seu assento, o que lhe gera créditos (valor de venda do ingresso avulso, descontadas taxas administrativas) para serem gastos na loja do clube ou lanchonetes do estádio. 

Ressalta-se que neste pacote de ingressos não estão inclusos os ingressos para jogos que decorrem de resultados de jogos anteriores (fases seguintes de mata-mata), haja vista que estes não podem ser programados no início da temporada, porém os adquirentes de planos anuais têm prioridade para a aquisição dos ingressos para estas partidas em preços que se assemelham ao valor por partida no pacote de ingressos.

A cada ano são vendidos novos pacotes de ingressos e os que já adquiriram no ano anterior têm preferência para renovar se estiverem com os pagamentos em dia, sendo comercializados apenas os pacotes não renovados. No fim da última temporada foram renovados 51 mil pacotes anuais.

Desta forma, vislumbra-se que o clube vê a questão associativa como apenas uma parte do frequentar os jogos no estádio. Busca-se inserir o torcedor no dia a dia do clube, com participação ativa nas decisões e com as informações do clube fornecidas pela revista mensal. Assim, o torcedor se sente parte integrante do clube antes de frequentar o estádio e possibilita àqueles que não podem frequentar o estádio a possibilidade de se sentir parte do clube de outra forma.

Já no Paraná…

No futebol brasileiro, os clubes cada vez mais buscam um caminho inverso, colocando os ingressos avulsos a preços elevados para subir o valor do sócio torcedor, atentando contra o bolso do seu principal patrimônio, que é o torcedor. Basicamente é forçar a torcida a se associar. O resultado disso são estádios vazios, planos de sócios que não vingam e o afastamento do torcedor mais pobre do estádio e do dia-a-dia do seu clube de coração. Não se busca criar uma identidade do torcedor com o clube, a sensação de participação ativa e de relação direta deste com o clube de coração.

Atualmente este modelo de plano associativo e venda de ingressos não se enquadraria às necessidades do Paraná Clube, mas é mais do que óbvio a necessidade de uma nova mudança nesse quesito do departamento de marketing do clube.

Desde 2008, do lançamento do “SemPRe Paraná”, o primeiro em um modelo de associação na história do Tricolor, nenhum funcionou. É bem verdade que o time pouco correspondeu nesses 12 anos e só teve lampejos de empolgação em 2013, 2017 (acesso) e 2019 na Série B, além da participação sonhada, mas pífia na Série A de 2018.

De acordo com os últimos balanços disponíveis no site oficial, a maior arrecadação foi em 2015, com R$ 4,2 milhões. Em dezembro de 2014, o clube havia lançado a unificação dos sócios-torcedores e sócios-olímpicos, com direito a voto, além dos setores Curva Norte e Reta do Relógio com livre trânsito.

Já o pior ano foi em 2016, com apenas R$ 1,6 milhão arrecadado, quando foi feita novamente uma reformulação nos planos de sócios na metade daquela temporada, voltando a ter valores diferente entre Curva e Reta. 

Durante todo esse período, as promoções foram constantes. O alto valor dos ingressos para um estádio ultrapassado e precário como é a Vila Capanema afasta a torcida. Abaixar o preço pontualmente até traz mais torcedores, mas não o suficiente. A divulgação também é fraca, vale salientar, o que pode estar condicionada à falta de recursos do clube.

O ano mais emblemático, que teve R$ 2,9 milhões de arrecadação com sócios, foi o ano da conquista em 2017. As receitas do estádio foram de R$ 7 milhões. Aqui cabe ressaltar o desempenho esportivo aliado às campanhas de marketing, com destaque ao “Cale quem duvida”, que trouxeram o torcedor de volta, lotando Arena da Baixada e Couto Pereira na Série B. 

Outro ponto importante há três anos foi a conexão entre torcida, time e própria direção, que se mostrava menos fechada do que é atualmente, com transparência zero e distante de quem é seu maior patrimônio.

Não somos especialistas ou formados na área, mas o Paraná precisa repensar a forma de tratamento com a torcida. Seja no estádio, dia a dia e através da imprensa. Estamos todos distantes e até desunidos entre nós. 

Quem sabe a chegada do grupo de investidor russo, que aparentemente injetará valores para pagarmos em dia, aqui sem discutir os benefícios e dúvidas da parceria, não seja um impulso para a direção unir o torcedor novamente. Já provamos que, com transparência, conversa e profissionalismo, empurramos o clube de volta à Série A.

O plano de sócio torcedor utilizado pelo Paraná Clube atualmente prevê apenas uma forma de associação, que prima pelo pagamento de um valor mensal para ter acesso aos jogos daquele período. Apenas desta forma o torcedor pode participar do quadro associativo, participando das decisões do clube e ainda assim, de forma restrita, já que precisa ser do Conselho, que terá eleição em outubro, para poder participar ativamente de algo. Este plano ainda concede desconto na aquisição de produtos da loja do clube.

O plano associativo no formato utilizado pelos clubes europeus poderia ser utilizado para que o torcedor se tornasse sócio do clube sem a necessidade de ir aos jogos, despertando assim o interesse na participação das decisões do clube, se mantendo informado e utilizando isto para gerar um interesse para frequentar os jogos com mais regularidade. Quando o indivíduo faz parte de uma agremiação, tendo direito a expressar suas opiniões (através de voto em assembleia, por exemplo), estiver informado de forma clara através de canais de comunicação, terá interesse em participar cada vez mais deste grupo, estando em contato com outros membros, frequentando seus espaços comuns.

Veja abaixo a arrecadação dos últimos quatro anos:

Sócio-torcedor

  • 2018: 3,6 milhões
  • 2017: 2,9 milhões
  • 2016: 1,6 milhão
  • 2015: 4,2 milhões

Receita no estádio

  • 2018: 4,5 milhões
  • 2017: 7 milhões
  • 2016: 1,8 milhão
  • 2015: 1,5 milhão

* Vale lembrar que o balanço financeiro de 2019 tem que ser divulgado até abril deste ano.

ODS – Os De Sempre



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