Quando a paixão é hereditária – Coluna Cristiane Fernandes

QUANDO A PAIXÃO É HEREDITÁRIA

Com ele você deu os primeiros chutes em uma bola e foi ele que você abraçou pela primeira vez no estádio.  Hoje é dia dos pais. Papais, neste momento particular de desesperança, estamos precisando mais ainda do seu suporte, do seu exemplo e da sua força.

Sigmund Freud disse: “Não me lembro de nenhuma necessidade da infância tão forte quanto à necessidade da proteção de um pai.” Certamente somos o que somos graças aos nossos pais e isso deve ser prestigiado, agradecido e honrado. A esse respeito, assim referiu o escritor italiano Umberto Eco: “Aquilo que nos tornaremos depende do que nossos pais nos ensinam em momentos estranhos, quando, na verdade, não estão tentando nos ensinar. Nós somos formados por esses pequenos fragmentos de sabedoria.” Então. fiz uma breve reflexão sobre o relacionamento entre o meu Pai e o Paraná Clube.

Meu pai viveu o Paraná. Quando jovem saiu de Itajaí para tentar a vida em Curitiba e logo se apaixonou pelo Ferroviário. Ele dizia que o Ferroviário era uma tradição que tinha brotado e dado frutos. Era, imagino, como aquela paixão arrebatadora de início de namoro, ainda que na época o namoro fosse comportado. Aqueles momentos que antecediam o pegar na mão eram um misto de nervoso e deslumbramento. Dizia também que o Colorado lhe tinha dado, igualmente, muitas alegrias.

Na fase adulta do relacionamento, meu pai quebrava um radinho de pilha por jogo (e isso não é um exagero); era na Vila Capanema que liberava uma gangorra de emoções. Era amor e sofrimento; crises que, contudo, jamais culminariam no divórcio entre meu pai e o PRC, time que escolheu para amar.

Lembro-me bem do ruído diário do rádio lá em casa, chegava a incomodar aquela fixação. Mas, no fim, eu bem que adorava ter as notícias em primeira mão, de forma resumida. Era só perguntar e ele sabia. Acompanhava até os processos judiciais do Paraná.

Quando morei fora do Brasil, levei uma gravação da torcida cantando para as horas de desespero, decorrentes da abstinência do Paraná Clube. Mas meu pai sabia do meu sofrimento e, a despeito do valor dos telefonemas DDI na época, me ligava semPRe para eu ouvir a comemoração do gol.

Antes de falecer, meu pai já externava aquele sentimento de amor maduro, de quem já viveu tudo, nada mais no futebol poderia lhe surpreender. Trata-se daquele amor que compreende, que perdoa, que não julga e que não mais cobra, só agradece pela parceria e companheirismo de todos os anos.

Meu pai nunca me pediu para ser paranista. E, por vezes incrédulo, não conseguia entender como aquele amor teria passado para mim, não obstante o vínculo aqui independer do sangue. É amor e ponto. Amor que não se explica, que acontece, que decepciona, mas que engrandece a alma lá no íntimo. Mas eu sei que me tornei paranista no primeiro dia em que pisei na Vila, graças a ele, com um aninho de idade.

Ser pai não deve mesmo ser fácil, mas ser pai paranista é tarefa ainda pior, porque precisa preparar sua prole para a resistência, para as injustiças e agruras da vida, precisa construir uma resiliência guerreira, de quem sabe que os tempos para nós nunca foram fáceis, mas também com a certeza de que superação é algo que conhecemos. Aquela esperança genuína da superação pelo simples merecimento.

Muito obrigada, papai, por seu amor incondicional e por, involuntariamente, me criar paranista.

Por Cristiane Fernandes.



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