Memórias do Exílio

ventura

Memórias do Exílio

O título dessa coluna é pretensioso mesmo. O intuito de dar o mesmo nome da obra de Pedro Celso Uchoa Cavalcanti e Jovelino Ramos é trazer reflexão pesada.
E já friso de antemão: tudo que eu disser nessa coluna – que tende a ser muito dura – é opinião emitida por mim, não necessariamente pela Paranautas.

Nesta quinta-feira o Paraná Clube completa 30 anos de existência. 105 de história. História que muitos teimam em ignorar, em achar que na verdade é um fardo que emperra o andamento da vida do clube. Mas que, convenhamos, exatamente porque é ignorada é que estamos em situação calamitosa.

Se nossa história fosse respeitada, cultuada e estudada, não só louvaríamos os feitos que arrebanharam torcedores de gerações anteriores à nossa, como também – e o mais importante – aprenderíamos com os erros do passado, recente e distante. Soluções simplórias para problemas grotescos sempre levaram a insolvências e novas fusões. E lá vamos nós para mais uma solução simplória de entregar coisas nossas para terceiros administrarem.

Mas não quero falar só sobre isso nessa data. Quero falar de uma realidade dura. O clube, em um gesto nobre, resolveu fazer uma seleção dos 30 anos de Paraná Clube para homenagear ídolos da nossa história pós fusão derradeira.

É o mínimo que se possa fazer, mas é válido.

Nessa seleção, obtida após votação da torcida, todos os integrantes – com exceção de Caio Junior, na condição de técnico – cumpriram seus papeis na década de 90. Isso é muito sintomático.

Vivemos uma década de ouro e, desde então, vivemos exilados de bons momentos confiáveis, de idolatrias saudáveis e perenes. E, nesse exílio, o que sobra pra contar é muita coisa ruim. Idolatrias de investidores comerciais tratados como salvadores da pátria. LA Sports, “irmão” Amaral, Werner e – em breve – um novo gestor terceirizado de futebol, provavelmente Sergio Malucelli. Atletas, treinadores, nenhum idolatrado mais. Nem mesmo os “herois do acesso” de 2017 recebem alcunha de ídolos porque nenhum deles quer ver o Paraná nem pintado de ouro na frente, tamanha a sequencia de cagadas.

A seleção dos 30 anos de Paraná Clube caberia tranquilamente como seleção dos 20 anos. E, nessa toada, se fizermos uma seleção dos 40, 50 anos de clube, a escalação será igual. A perspectiva é essa, e isso é muito triste. Estamos oceanicamente distantes da nossa pátria de glórias.

Além dos erros passados de gestão, temos uma diretoria tacanha, que esvaziou-se (nas duas gestões) assim que as pessoas mais sérias perceberam o tamanho da roubada. Uma diretoria que prometeu sanear o clube, mas que conta com premiações e vendas utópicas de jogadores em orçamento. Hoje há um presidente e um vice oficialmente comandando o clube, mas não sabemos se são exatamente eles que devem ser cobrados pelas decisões, pois não há transparência de se apontar publicamente quem, de fato, está dando as cartas na instituição.

Mas, gente… mesmo nesse exílio – assim como em qualquer outro – houve e há coisas boas para lembrarmos. Assim como um exilado no Uruguai pode, apesar da saudade da sua terra, apreciar o por-do-sol no Rio da Prata, um exilado na França pode admirar a vista da torre Eiffel, nós, exilados tricolores, também pudemos nos deleitar com vitórias inesperadas em jogos importantes, confrontos inesquecíveis e até com o delicioso acesso em 2017 que nos mostrou que é possível sair do fundo de qualquer poço. É pouco, mas é uma pontinha de esperança.

O cenário é desanimador – mais do que quando caímos para a série prata -, temos essa diretoria sem credibilidade alguma, fomos pilhados por outras gestões anteriores igualmente ou até mais danosas mas, apesar de tudo isso, o Paraná Clube chegou aos seus 30 anos. E vai chegar a outros 30, 60, 90, 120. Porque estamos sendo forjados nessa casca de resistência. Mas precisamos nos mostrar mais presentes. Quem tem estomago, aguenta um ano completo de sócio. Entra pra uma chapa do conselho deliberativo. Cobra pra valer qualquer ação mais temerária do conselho gestor.

E quem não tem tanto estomago (e nem condição financeira) assim, só não desiste de torcer. Não desiste de estufar o peito e dizer que é paranista. Não desiste de usar nossas cores. Não desiste de passar o paranismo para seus filhos, sobrinhos, afilhados, enteados, porque isso é mais que escolher time, que gerar identificação: é mostrar que a vida é foda, mas que a gente consegue superar qualquer merda.

Portanto, torcedor paranista, por mais dolorido que o momento de exílio de glórias seja, comemore: o Paraná Clube, mesmo sem merecer, completa 30 anos. E é perene. E vai continuar sendo. Esse mau tempo vai passar, nem que seja na marra. Foda-se quem segue fazendo merda com nossas cores. Elas seguem sendo nossas.

Parabéns, MEU, NOSSO, Paraná Clube.

Vejo você na Vila!



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*Nota: O conteúdo postado neste espaço (colunas) é de responsabilidade exclusiva do autor, não necessariamente refletindo a opinião da Paranautas sobre os temas aqui abordados.